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Incêndio no Museu da Língua Portuguesa completa 8 anos: qual o caminho para prevenir tragédias?

Segurança contra incêndio avança no país, mas é preciso ainda mais conscientização e participação da sociedade Por Alexandre Vieira, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Retardantes de Chama (ABICHAMA) Em dezembro de 2015, o Museu da Língua Portuguesa, localizado na cidade de São Paulo, foi acometido por um incêndio de grandes proporções, o que […]

Segurança contra incêndio avança no país, mas é preciso ainda mais conscientização e participação da sociedade

Por Alexandre Vieira, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Retardantes de Chama (ABICHAMA)

Em dezembro de 2015, o Museu da Língua Portuguesa, localizado na cidade de São Paulo, foi acometido por um incêndio de grandes proporções, o que afetou boa parte de sua estrutura e acervo. O fogo teve início no primeiro andar e avançou rapidamente para os dois andares acima, devido a materiais compostos de madeira, plástico e borracha que integram a sustentação do museu. E o pior, uma vida foi perdida durante os esforços para o controle das chamas, o bombeiro civil Ronaldo Pereira da Cruz.

Após nove anos de funcionamento e consolidado como um dos museus mais visitados do Brasil e da América do Sul, o local virou referência internacional não só pela tecnologia, mas pela maneira inovadora de encarar a língua portuguesa. Agora, dito isso, podemos nos questionar o porquê de um edifício tão importante e histórico pegar fogo dessa forma. Não existe proteção para suas estruturas? Há fiscalização para a segurança contra incêndio? Existe a possibilidade de melhorias para evitar que esse tipo de desastre aconteça?

E a resposta é sim, mas temos espaço para muitas melhorias. De um modo geral, o primeiro pensamento da população vai para atuação do Corpo de Bombeiros, que possui uma relevância indiscutível no combate a incêndios e salvamento de pessoas. E, também, para ações de proteção ativa, ou seja, quando o fogo já iniciou. Posso citar como exemplo os extintores, mangueiras, hidrantes ou sprinklers, que são pequenos chuveiros hidráulicos que bombeiam água quando ativados em caso de incêndios.

Neste caso, o museu estava interditado para manutenção, consequentemente não havia visitantes no local, mas, caso contrário, é crucial que haja um Plano de Emergência já elaborado, incluindo esquemas de evacuação bem definidos e rotas de fuga seguras. É de suma importância, também, que as saídas de emergência estejam muito bem-sinalizadas e desobstruídas. Treinamentos e simulações de evacuação podem, e devem, ser realizados regularmente, organizados pela brigada de incêndio local, para garantir que todos saibam como agir em uma emergência.

Entretanto, antes dessas ações de proteção ativa, temos as ações preventivas, ou também conhecidas como proteção passiva. Elas são pensadas para evitar que o fogo aconteça. Para isso, é necessário, primeiramente, uma avaliação de riscos, ou seja, identificar pontos como fiações elétricas em más condições de funcionamento, materiais inflamáveis e áreas de difícil acesso. Isso vem seguido pela importância da proteção das estruturas de madeira, como também da implantação de portas e cortinas resistentes ao fogo ou com sistema de fechamento automático.

Para complementar, esse cenário poderia apresentar mudanças representativas caso fossem atendidas as normas de controle de inflamabilidade da ABNT, que posso citar um exemplo, como a Norma Brasileira (NBR) 16626, que classifica a reação ao fogo de produtos de construção. Esse é apenas um exemplo, mas hoje existem mais de uma dezena de normas que classificam produtos e materiais em relação ao seu desempenho em contato com chamas, e que são produzidas a partir de discussões, estudos e ensaios, para evitar incêndios.

Mas podemos e devemos ir além, a Segurança Contra Incêndio (SCI) precisa ser disseminada em outras esferas da sociedade, com Projetos de Lei (PLs), por exemplo, que foquem na segurança da população e dos nossos bens e memórias como comunidade e sociedade.

Hoje, dois PLs estão em andamento na Câmara que seriam de suma importância para a causa avançar no Brasil: o 1353 e o 2080, que visam instituir o ‘Agosto Limpo’ ou ‘Agosto Cinza’ como mês de reflexão e prevenção de incêndios. O objetivo é incluir a criação de material didático (impresso ou digital) que trate sobre a importância de combater e prevenir focos de incêndios e queimadas nas zonas urbanas e rurais, além de realizar ações e eventos de conscientização, educação e sensibilização da população, com a missão de ensinar noções de como impedir a propagação do fogo combatendo as chamas no estágio inicial.

O Museu da Língua Portuguesa, graças a tecnologia, conseguiu recuperar a maior parte de seu acervo virtual, mas outros edifícios não tiveram a mesma sorte, como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro que perdeu 90% de sua coleção em 30 minutos de incêndio, em 1978; o Instituto Butantã, em 2010, que teve milhares de espécies classificadas e 100 anos de pesquisas totalmente queimadas; e o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, que teve a maior parte dos 20 milhões de itens que abrigava destruídos em 2018.

No Brasil, a SCI se originou a partir de grandes tragédias e, desde então, tem avançado, mas ainda é possível fazer mais. Que datas como essa, de relembrar a perda de vidas e patrimônios históricos, sejam impulsionadores de mudanças efetivas em toda a sociedade, em prol da conscientização para a prevenção contra incêndios.